Palavras, ditas vivas, sentimentos, vivos tambem, um pouco de mim, aqui, para ti que lês, que vês, assim....
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Sábado, 13 de Março de 2004
Vida de PC...
Olá, sorria, está a ser gravada uma imagem do seu rosto, sim, do seu rosto. Como? Se está bonita? Se ainda é sedutora? Se a acho atraente? PC também pragueja e, deixe-me que lhe diga, o meu CPU tem dono, uma tal placa de vídeo que brilha como nenhuma no firmamento do AMOR.
Estou aqui para gravar uma imagem do seu rosto, não para tecer considerandos sobre a sua beleza, por favor não se mexa ou ainda dizem que não a favoreci. Mas agora, que vejo com mais atenção, você é a tal pessoa que costuma olhar para mim, que me afaga o teclado, conheço-lhe o sorriso, já a vi chorar, a sua gargalhada é-me familiar, conheço pois, sois aquela pessoa que passa horas comigo. O PC não ama pessoas, não pode amar, mas sinto um frémito eléctrico nos meus condutores, que será isto? os ventiladores aceleram, ainda vou sobreaquecer, mas quem me manda a mim gravar imagens...?
Posso tratá-la por tu? eras tu que ontem estavas aqui martelando furiosamente no meu teclado? gritando que não, que não podia acabar assim, com um tal de MSN 6,1? eras, não eras? E eu aqui a debitar imagens de um tipo qualquer que escrevia disparates que só te faziam gritar cada vez mais...vida de PC é dura, mas vi que a tua também não está a correr bem. Posso emprestar-te um dos meus ventiladores, tocar uma musiquinha calma, deixar-te jogar, afagar-te não posso mas, fá-lo-ia se pudesse.
Sabes, agora que te olho com mais atenção, és bonita, és muito atraente, gosto dos teus olhos, do jeito meigo com que me acaricias o teclado, gosto, confesso que gosto, sim, que PC tb sabe gostar (sabe?), gosto de te ver sorrir, assim, para mim, mas que coisa linda que tu és. Dizia-me o meu pai que os Humanos apenas serviam para nos pôr "coisas" no disco mas, tu, tu és diferente, limpas-me o pó, tratas de mim, tu és uma querida.
Sabes, vou gravar uma imagem linda de ti, cheia de cores garridas, cheia de contornos bonitos, bonitos assim como só os teus (corando), estou a ficar com um calor tremendo, podias ligar-me algo aí na porta USB, só para saber que também gostas de mim, que te importas comigo, olha, liga uma Web Cam para te ver melhor, para te ver sorrir, acho que estou a apaixonar-me por ti...
Juro que nunca mais bloqueio, que nunca mais perco ficheiros, que nunca mais te faço andar, como louca, à procura de um vírus, só te mostro e-mails bonitos, não te deixo falar com mais nenhum PC (ciumito), apenas com os "Friendly", se me continuares a amar assim, como até agora. Confesso que, ontem, quando me desligaste, fiquei algo frio, senti-me só, não devia dizê-lo mas confesso.
Como? Se já acabei? Se não sei fazer melhor que isto? Que não, que os teus dentes não são tortos, que não tens essas borbulhas, bem, eu sou um PC, tou apaixonado mas, não sou o Miguel Angelo....vida de PC é dura mesmo...Alt+F4.
Segunda-feira, 8 de Março de 2004
Mentira
Mentiras são palavras pintadas de cores garridas, cheias de nada, palavras vãs, vazias de gosto, que trazem no rosto sorrisos falsos.
Pode-se mentir, omitir, esquecer, não contar, não dizer, mas mentir sempre faz doer, uma dor fina, aguda, marcante, que estraga e destroi, que apaga os sonhos de quem sempre sonhou que a mentira não existia, não cabia, não podia existir.
Mas mentir porquê, para quê, por medo de perder, medo de não saberem ouvir, algo serve para racionalizar o mentir?
Mintamos pois, mintamos todos, mintamos muito, a rodos, pois se mentir é assim tão normal, não o fazer é fugir à incomum normalidade e, sabemos bem, que, nisto de anormalidades, ninguem é nem ninguem o quer ser.
Fica-me, no entanto, a dúvida, e a verdade, onde fica, onde a pomos, alguem a usa, fará sentido, terá lugar num discurso depois de tanto se ter mentido? Parece-me que a vi passar, de mão dada com a honra, outra estranheza, aspecto jovial, pouco gastas, olhadas, aqui e ali, como se de bizarrias se tratassem.
Pobres de nós, comuns mortais, que não sobrevivemos à mentira, pela sua curta validade e à verdade pela sua eternidade.
Já agora, menti, eu não sei escrever.
Quarta-feira, 3 de Março de 2004
Mulher de Mel
A tua voz soou como mel, cheia, quente, doce, sempre soa, mas, hoje, havia algo em ti.
Falaste-me de ti, de mim, de um nós que não conhecemos, do mar, o teu mar, palavras que brotavam como mel, doces, cheias, quentes.
Quanto te calaste ficou um vazio, faltou a ternura, ficou um frio onde, antes, estavas tu. Inexplicável calor este, o do gostar, o do querer, que tanto acarinha, tanto afaga, sem arder.
Que sejas sempre como o mel, mulher de sonho, de papel e eu beberei sempre a tua voz.
Para ti, mulher de mel, doce e quente.
Cativo
Estava cativo mas consegui, saí de lá, fugi, escrevi, escrevi, escrevi, e, quando escrevia, voei.
Sabia que escrever era sonhar, sabia-o porque voei, só não sabia que, voando, escrevi, que bastava escrever para voar.
Se amar fosse como voar, se escrever bastasse para amar, escreveria, escreveria sem parar, escreveria só para te amar.
Mas, ora livre, já consegui, queria, de ti, não ter fugido, escrevi, escrevi, escrevi, mas não consegui ser querido.
Para quê?
Para quê sonhar se depois desperto para descobrir que, afinal, tudo o que pensava ser meu havia já, por outros, sido descoberto.
Para quê sentir se, nesta solidão, apenas tenho a memória do que gostei e vivi, do que amei e senti.
Para quê ter, se vivo na pobreza de não ter, na miséria de querer e não poder.
Porque sonho, sinto e tenho a honra de ser, cioso de poder ter a grandeza do sonho.
Silêncios
Hoje cruzei-me com o silêncio.
Recordei palavras ditas, juras de eterno, o toque, o cheiro, esse sorriso matreiro que o meu sabia iluminar.
Sei que recordar é sentir de novo, é mágoa mas também é prazer, sei e, no entanto, todos os dias recordo e sinto a loucura de te ter. Quem sabe, um dia, a tua loucura voltará a cruzar-se comigo, a tua boca a derreter a minha, soubera eu e seria mais feliz de feliz te saber.
Tantos silêncios se cruzaram comigo mas, hoje, era frio, tenso, solitário. Pensar que não atentei nos silêncios de outros e, agora, confrontado com o meu, me senti tão próximo deles.
Hoje cruzei-me com o o silêncio, o meu.
Donas
Dona Pureza, concerteza, não era alcoviteira, tinha, lá isso tinha, no remanço da alcova, preceitos de rameira.
Dona Maria, concerteza, não era namoradeira, mas teria, se houvera quem a quisesse, trejeitos de rameira.
Dona Esperta, concerteza mulher ladina, era alcoviteira e namoradeira, mas nunca teve, lá isso não, a fineza de uma rameira.
Dona esta, dona aquela, tudo gente sem pecado, tudo donas e donzelas com o pecado por vizinho, o do lado.
Mas afinal, e da rameira, não falais, daquela de quem as donas, nada alcoviteiras, ainda menos namoradeiras, mais odeiam, invejam mais.
Dona Rameira, concerteza, não era Maria, não era esperta, não tinha pureza, mas tinha, concerteza, o desamor de uma rameira.