Com seu vestidinho de chita, Anita, a vendedeira de limões, impregnava, com seu trinado ritmado, o ar que eu respiro, bendito trinar que tanto admiro, é cantar de voz de Mulher, grande, cheia, de alma igual na grandeza, na plenitude, voz de Gente, com atitude, é a Anita, a vendedeira de limões.
Podia vender outro coisa, maçãs, batatas, a alma, a honra, a dignidade até, mas não, escolheu os limões, diz que têm uma cor especial, um cheiro desigual, é o seu pregão que o faz assim, saiba ele ser digno de tal apregoar.
Ó Freguesa! exclama ufana, certa da valia do seu produto, que deseja, quantos quer, são do melhor para o escorbuto.
Faz-se de Anitas este mundo, de Anitas e seus limões, anunciados em pregões que, quando mortos, já lembramos com saudade, essa vil lembrança triste de quem ouviu, em tempos, cantar a Anita dos Limões.
Hoje, sós, os limões, na prateleira de um qualquer hipermercado, aguardam por senhoras finas, as freguesas já não existem, já não são apregoados.
Ficaram os limões, a Anita já se foi, das freguesas nem vistas, qualquer dia são em pó, do tal que é só juntar água e que o dinheiro compra, mas...o trinado ritmado da Anita dos Limões, esse, nunca mais.